Sete mortes e dois atentados em um mês na guerra do tráfico de Sarandi
12 de setembro de 2021 0 Por RedaçãoDois homens foram executados com cerca de 40 tiros na tarde deste sábado, 11, na Avenida Maringá, no Centro de Sarandi, dando continuidade à guerra entre grupos de traficantes pelo controle da venda de drogas na região sul da cidade. Aumentou para sete o número de executados nos últimos 30 dias na guerra do tráfico em Sarandi, que parece estar longe do fim.
Rodrigo Mendonça Martins, de 35 anos, conhecido como Japonês ou Maragão, e Juliano Gomes da Silva, o Neguinho, 45, foram executados com dezenas de tiros de pistolas 9mm e .45 em frente a Automóveis Maringá, uma garagem de veículos usados que seria de propriedade de Japonês.
Os dois estavam na frente da loja, quando dois homens encapuzados desceram de um Ford EcoSport e começaram a atirar. Juliano e Rodrigo morreram na hora.
Mais um ‘soldado’ de Pestinha
Rodrigo Mendonça Martins tinha passagens pela polícia e saiu da prisão há poucos dias e ainda era monitorado por uma tornozeleira eletrônica. Segundo a polícia, ele seria membro do grupo liderado por Pestinha e possivelmente era o alvo dos atiradores e que Juliano morreu por estar junto dele na hora da execução.
Pestinha foi executado dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Metropolitano com mais de 30 tiros, no dia 15 de agosto, por homens encapuzados que invadiram o hospital.
O grupo de Pestinha vem sofrendo baixas em quase todas as semanas dos últimos 30 dias desta guerra do tráfico, a começar pelo próprio líder, metralhado dentro de um hospital quando se recuperava de um atentado sofrido quatro dias antes.
Juliano e Rodrigo são velados ao mesmo tempo na Capela Prever de Sarandi, Juliano na Sala 3 e seu amigo na Sala 1. Japonês será sepultado às 16 horas e Juliano às 17.
Queimar o carro, a tática de sempre
O veículo Ford EcoSport usado pelos pistoleiros – uma terceira pessoa permaneceu na direção do veículo durante a execução – foi encontrado em chamas alguns minutos depois no Contorno Norte de Maringá, próximo ao cruzamento com a Avenida Guaiapó.
Segundo algumas pessoas, os três homens desceram, tocaram fogo na EcoSport e embarcaram em outro carro que chegou ao local naquele momento e retornaram em direção a Sarandi.
De acordo com os registros da polícia, a EcoSport havia sido tomada de assalto no decorrer da semana em Maringá. A tática é a mesma usada em outras execuções em Sarandi nos últimos dias. Exatamente um mês antes, no dia 11 de agosto, pistoleiros tentaram matar Diego Henrique Valentin, o Pestinha, na Rua Cezário Mancini, no Jardim Esperança, na zona sul de Sarandi, e ao fugirem incendiaram o veículo. Quatro dias depois, quando executaram Pestinha dentro da UTI do Hospital Metropolitano, novamente um carro foi incendiado
Sete mortes e dois atentados em um mês
11 de Agosto – Juliano Gomes da Silva e Rodrigo Mendonça foram executados no dia em que completava um mês que Diego Pestinha sofreu um atentado no Jardim Esperança. Ele estava na Rua Cezário Mancini, quando parou um carro e homens desceram atirando.
Pestinha conseguiu fugir pelos fundos de um estabelecimento comercial, mas estava gravemente ferido. Foi internado no Hospital Metropolitano, passou por cirurgia de urgência e permaneceu na UTI em estado grave.
14 de agosto – Tiago de Freitas Ferreira, de 25 anos, tinha acabado de sair da cadeia, usava tornozeleira eletrônica, mas já estava de volta ao mundo do crime. Em um sábado a noite, ele chegava à casa de um amigo quando uma motocicleta com dois homens encostou. O ex-presidiário foi executado e outras duas pessoas que estavam no local também foram baleadas.
15 de agosto – Pestinha, que estava na UTI se recuperando do atentado de quatro dias antes, foi metralhado por homens que invadiram o hospital. Por volta das 13h30, um carro parou na frente do hospital, desceram três pessoas encapuzadas, renderam o segurança e os funcionários da portaria do hospital, um ficou na portaria mantendo todos sob a mira de uma pistola enquanto outros dois foram à UTI e metralharam Pestinha.
21 de agosto – Thiago de Mattos Leme, conhecido como Japonês, de 26 anos, vendedor de drogas para Pestinha, foi atingido por dois tiros quando chegava em casa, na Vila Morangueira, em Maringá. Três homens armados teriam invadido o imóvel para executar o morador, que mesmo ferido conseguiu fugir e pedir socorro.
3 de setembro – Danilo dos Santos Barbosa, de 21 anos, foi morto com um tiro de pistola 9mm no olho disparado por alguém que fugiu de bicicleta. Danilo era o dono da casa em que poucos dias antes um rapaz com histórico de crimes disparou 10 tiros contra uma ex-namorada.
3 de setembro – Vitor Hugo Cláudio de Oliveira, de 26 anos, foi executado em casa, quando dois homens chegaram em uma motocicleta e dispararam pelo menos 10 tiros de pistola. A polícia ainda não sabe se esta execução tem relação com as outras que ocorreram nas últimas semanas em Sarandi.
4 de setembro – Samuel Divino Gonçalves Ortiz, de 24 anos, suspeito de ser um dos homens que invadiram a UTI do Hospital Metropolitano e executaram o traficante Pestinha (Diego Henrique Valentin), foi morto a tiros no Jardim Ana Eliza. Ele estava dentro de um carro quando outro veículo encostou ao lado e homens começaram a atirar. O rapaz morreu na hora.
11 de setembro – Rodrigo Mendonça Martins, o Japonês ou Maragão, saído da prisão há poucos e ainda usando tornozeleira eletrônica, citado como membro da quadrilha do traficante Pestinha, estava na Avenida Maringá, em frente a um estabelecimento que vende carros usados, quando homens encapuzados apareceram e dispararam mais de 30 tiros e fugiram.
11 de setembro – Juliano Gomes da Silva, o Neguinho, de 45 anos, foi morto a tiros no momento em que conversava com Rodrigo Mendonça Martins na Avenida Maringá. A polícia acredita que os pistoleiros chegaram para executar Mendonça por seu envolvimento com o tráfico de drogas e que Neguinho morreu só por estar junto.
Quando acaba a guerra do tráfico?
É a Polícia Civil de Sarandi quem afirma que há uma guerra em andamento entre grupos de traficantes da zona sul.
O problema teria começado quando o líder do grupo que controlava a área foi preso e enquanto outros traficantes tentaram ocupar, acabando com as bocas de fumo do chefão preso e criando novas.
A princípio, a polícia suspeitou que Lincon Van Damme Ferreira era o responsável pelas execuções. Ele já teve o controle da região do Jardim Ana Eliza, Esperança e Residencial José Richa, mas passou longo tempo preso e perdeu espaço.
Coincidentemente, os assassinatos começaram quando Van Damme saiu da cadeia. E, mais coincidentemente ainda, as mortes são sempre dos grupos rivais.
Em entrevista a um programa de televisão, arranjada por seu advogado, Lincon Van Damme nega qualquer envolvimento nas mortes e na guerra do tráfico de Sarandi. Só não explicou o porquê de ele fugir da cidade justamente quando aconteceu a execução de Diego Pestinha dentro da UTI do Metropolitano.
Já são sete mortes e dois atentados em 30 dias e em nenhum dos casos alguém foi preso ou pelo menos idenfificado. Enquanto isto a guerra do tráfico continua e ninguém sabe quais serão os próximos passos.