O shopping dos pobres chegou com tudo quase de graça
8 de março de 2021 0 Por RedaçãoCida é apenas uma catadora de recicláveis que luta com dificuldade para criar uma filha autista que adotou há cinco anos, mas há certos dias que ela torna-se a comerciante mais esperada de Sarandi. Com ou sem dinheiro, as freguesas podem comprar artigos úteis por valores ao alcance de qualquer bolso.
Luiz de Carvalho
Moradores da zona norte de Sarandi, principalmente as donas de casa, têm sempre a oportunidade de comprar artigos por valores simbólicos, que nem se compraram aos preços praticados pelas lojas, quando o shopping ambulante de Maria Aparecida Rotela estaciona em alguma esquina do bairro.
O “shopping dos pobres” ou Brechó da Cida é na realidade uma carrocinha em que Cida expõe ao público blusas, saias, calças, roupa de baixo, sapatos, sandálias, utensílios de cozinha, xampus, produtos de maquiagem e até mesmo alguma bijuteria, materiais escolares e Best-sellers da literatura mundial, além de outros produtos.
O nome é o que menos importa. Para a Cida, a carrocinha de novidades é apenas um jeito ganhar uns trocados e ajudar as freguesas a comprar por preços que ninguém acredita.
O “shopping” é itinerante. Está um dia aqui, outro ali, às vezes acolá, mas sempre debaixo de alguma árvore frondosa em alguma esquina dos bairros pobres de Sarandi, principalmente na região do Jardim Universal. Funciona das 8 ao meio-dia ou até acabar o estoque. Se chover, não tem expediente. Se o fiscal chegar, também não, aí tem correria.
A abertura acontece a cada 10 ou 15 dias, porque a Cida precisa de tempo para juntar a mercadoria. Tudo o que ela põe para vender é ganhado de pessoas que querem ajudá-la.
Aparecida Rotela é uma catadora de recicláveis, que percorre as ruas de Sarandi e, às vezes, de Maringá com uma carrocinha em busca de material que possa render um dinheirinho nas cooperativas de catadores.
A mesma carroça usada na coleta de recicláveis é a do shopping dos pobres. “Muita gente já me conhece, respeita meu trabalho e procura me ajudar, porque sabe que tenho muitas despesas com a filha autista que adotei e precisa de atendimento especial”, conta a catadora. “Como vendo tudo por preços simbólicos, todo mundo sai ganhando, as freguesas porque pagam barato, eu porque ganho um dinheiro extra”.
Maria de Lourdes, uma dona de casa que mora no Jardim Bom Pastor, é freguesa há mais de 10 anos e se tornou praticamente amiga da catadora. Nesta semana, ela comprou um par de sandálias de segundo pé, umas blusinhas e um exemplar do livro ‘O Símbolo Perdido’, de Dan Brown, mesmo autor de ‘O Código da Vinci’, quando o shopping da Cida estava na esquina da Avenida São Paulo Apóstolo com a Rua Andrômeda. “Os preços são ótimos, mas ao comprar estamos pensando que ela precisa desse dinheiro extra para as despesas com a filha autista”, diz.
.
.