Morre o ex-governador Luiz Antonio Fleury, autorizou a invasão de Carandiru

Morre o ex-governador Luiz Antonio Fleury, autorizou a invasão de Carandiru

15 de novembro de 2022 0 Por Luiz de Carvalho

O ex-governador do Estado de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho morreu nesta terça-feira, 15. Ele tinha 73 anos e governou o Estado entre 1991 e 1994, gestão que ficou marcada pela execução, em 1992, de 111 presos do Complexo Carandiru, tragédia conhecida como Massacre do Carandiru. Foi ele quem deu a ordem para a polícia invadir o complexo.

Luiz Antonio Fleury foi um professor, promotor de justiça e político filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Por São Paulo, foi governador, deputado federal durante dois mandatos e secretário da Segurança Pública durante o governo Quércia.

Durante seu governo, Luiz Antonio Fleury conviveu com 3 moedas diferentes, dois Presidentes da República, oito Ministros da Fazenda, diversos planos econômicos e até o impeachment de Fernando Collor.

Em sua gestão, deu continuidade a obras públicas do governo anterior, destacando-se a Hidrovia Tietê – Paraná, que viabilizou a navegação até o sul de Goiás, a partir do sistema de eclusas da Usina Hidrelétrica de Nova Avanhandava e do Canal Pereira Barreto, o que barateou o transporte de alimentos no estado e ajudou a desenvolver a região. Construiu o complexo de aproveitamento múltiplo Mogi Guaçu e deu prosseguimento ao complexo de Canoas.

Durante seu governo, Fleury iniciou o Projeto Tietê, uma série de iniciativas com a intenção de despoluir o Rio Tietê, na Região Metropolitana de São Paulo. O governo do Estado, por meio da empresa estatal de saneamento – Sabesp –, conseguiu um empréstimo junto a organismos internacionais, principalmente o banco japonês JBIC, mas o empréstimo só foi liberado pelo Governo Federal de fato no governo seguinte, o de Mário Covas, aliado do governo.

O governo de São Paulo e a cidade de São José do Rio Preto, onde Fleury nasceu, decretaram luto oficial.

Carandiru, 30 anos da maior chacina em penitenciária brasileira

Por Edison Veiga, Deutsche Welle – 22.10.2022

Oficialmente, foram 3,5 mil tiros disparados em cerca de 20 minutos. Era uma sexta-feira, 16h20 do dia 2 de outubro de 1992, quando 341 policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar do Estado de São Paulo foram enviados para conter uma rebelião no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, no Complexo do Carandiru. Entraram com cães, bombas e armas pesadas.

massacre de carandiru

Cruzes com os nomes dos mortos no massacre de 1992 — Foto: Nelson Almeida/AFP/Getty Images

 

O saldo da operação, 111 mortos, todos detentos, fez com que o episódio entrasse para a história com o nome de Massacre do Carandiru. Evidências posteriores confirmaram que presos foram fuzilados com armas como fuzis AR-15 e submetralhadoras HK e Beretta. Não raras vezes, aquele dia é lembrado como o ápice da falência do sistema prisional brasileiro.

 

Mais violenta ação policial em penitenciária brasileira

 

O verbete dedicado ao tema na Wikipedia, por exemplo, foi alvo recente de vandalismo virtual. No último dia 26 de setembro, a descrição do evento na enciclopédia colaborativa estava editada como “A Limpeza do Carandiru foi uma entrega de 111 alvarás celestiais que ocorreu no Brasil”. O texto foi corrigido no mesmo dia.

Em 1997, o grupo Racionais MC’s gravou o rap Diário de Um Detento, contando sobre o massacre. Em Haiti, de 1993, Caetano Veloso fala sobre “ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina: 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres”.

Considerado a mais violenta ação policial dentro de uma penitenciária brasileira, o massacre ocorreu após uma rebelião dos presos, em que colchões foram incendiados e celas depredadas. Depois da repercussão da chacina e muita pressão de ativistas de direitos humanos, houve uma revisão da política prisional, sobretudo no estado de São Paulo.